Projeto Ar, Água e Terra combina agricultura com floresta para criar um ecossistema produtivo e sustentável com os Guarani
Um dos trabalhos desenvolvidos pelo IECAM com os povos guarani são as agroflorestas, também conhecidas como Sistemas Agroflorestais (SAFs). Esses sistemas combinam a agricultura com a floresta, integrando árvores e culturas agrícolas em um mesmo espaço, para criar um ecossistema produtivo e sustentável, imitando a diversidade e os processos naturais das florestas e colaborando para sua biodiversidade e regeneração.
Por que as agroflorestas são importantes? Porque são um modelo de produção sustentável, pois aliam a produção de alimentos com a preservação e a recuperação do meio ambiente, combinando diferentes elementos para otimizar o uso dos recursos naturais e promover a biodiversidade. As agroflorestas adotam boas práticas de manejo para melhorar a qualidade do solo e reduzir o uso de químicos, protegendo o solo da erosão e melhorando sua fertilidade. A água também apresenta melhora de qualidade, pois as árvores a filtram, reduzindo a poluição. Uma variedade de alimentos pode ser produzida em uma agrofloresta, recuperando áreas degradadas e promovendo o intercâmbio de sementes da agricultura tradicional indígena, contribuindo para a segurança alimentar e a autonomia dos povos originários.
“Nós temos apostado nos SAF´s e nas técnicas de restauração ecológica. Com isso, o plantio de mudas nativas, associado aos manejos de agricultura florestal, propiciam uma condição favorável para que, simultaneamente, as novas florestas se desenvolvam, permitindo, também, o cultivo de alimentos e plantas de importância para a cultura Guarani”, resume Denise Wolf, coordenadora do Projeto Ar, Água e Terra e presidente do IECAM. “As agroflorestas são um caminho de convergência entre restauração ecológica e geração de renda, promovendo segurança alimentar e nutricional, estruturação dos solos, fixação de carbono atmosférico, manutenção de fluxos de água e ar adequados, e resiliência do sistema produtivo aos efeitos das mudanças climáticas.”
Um exemplo é a transformação de áreas degradadas em espaços de vida, diversidade e cultivo tradicional Guarani na Teko’a Anhetenguá, que está colhendo a primeira leva de bananas. O Sistema Agroflorestal (SAF) transformou bananeiras em plantações fundamentais nesse processo, pois alimentam, curam, regeneram o solo e ajudam a conter espécies invasoras, como a braquiária. Mais do que produção, as agroflorestas são resistência cultural, reconversão produtiva e conexão com os saberes ancestrais.
A importância das agroflorestas também tem sido compartilhada com os Guarani com aulas explicativas, como a realizada na Escola Estadual Indígena Nhuu Porã, em Torres. O Cacique Mário repassou seus conhecimentos às crianças. Os “kiringue” (crianças) carregaram o local de alegria e puderam acompanhar a entrega de mudas nativas usadas na cultura guarani, transportamos para o local do plantio em espaço planejado.
Os sistemas agroflorestais também se revelam resilientes e adequados como resposta aos desafios climáticos que já estamos enfrentando. Soluções como essa, baseadas na natureza, são fundamentais para mitigar os efeitos das enchentes e outras calamidades climáticas.