Dois viveiros-estufas para multiplicação de mudas de espécies nativas do Rio Grande do Sul (RS) estão sendo inaugurados em 2024 nas aldeias Guarani Teko´a Anhetengua (Aldeia Verdadeira/da Verdade), em Porto Alegre (RS), e Teko´a Yriapu (Aldeia Som do Mar), em Palmares do Sul (RS), com a retomada, este ano, do Projeto Ar, Água e Terra, realizado pelo Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (IECAM), com o patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental.
Os viveiros-estufa Poarendã ou Yvyrendã (casa, local dos remédios ou das plantas) têm como objetivo preservar e multiplicar espécies nativas, promovendo sua reintrodução nas áreas indígenas, desempenhando além de um papel essencial na recuperação e restauração ambiental, a valorização da cultura Guarani (por fornecerem alimentos, matéria-prima para o artesanato, moradias, instrumentos cerimoniais e musicais e utensílios tradicionais).
“A proposta pioneira do viveirismo é semear, repicar e multiplicar as espécies, introduzir ou reintroduzir nas áreas indígenas e encaminhar o excedente a outros territórios indígenas que não tenham viveiro, mas têm interesse em reflorestar, reconverter, agroflorestar. Primeiro precisamos garantir a sustentabilidade ambiental com/nas aldeias e, depois, esperamos que venha a gerar renda para as comunidades”, explica Denise Wolf, coordenadora do Projeto Ar, Água e Terra.
Para isso, iniciou-se o processo de certificação do viveiro da Teko´a Anhetengua como “viveiro artesanal” junto à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do RS para, posteriormente, poder comercializar as espécies excedentes.
O IECAM apresentou a proposta de viveirismo nas aldeias Guarani entre 2004 e 2006, quando percebeu que diversas espécies nativas importantes para a cultura Guarani já não eram mais encontradas nas aldeias ou em suas proximidades. Assim, em 2007, após a elaboração conjunta do projeto e da definição e benção do local, foi construído o primeiro viveiro-estufa indígena, Poarendã ou Yvyrendã (casa dos remédios ou das plantas), na Teko’a Anhetengua. Desde então, os Guarani, com apoio técnico e metodologias interculturais, estão se apropriando das práticas de viveirismo, fortalecendo a cultura e o meio ambiente. Posteriormente, o Projeto possibilitou que o modelo arquitetônico diferenciado do viveiro fosse construído na aldeia de Palmares do Sul e a próxima etapa será sua construção na Teko’a Kuaray Resé (Aldeia Sol Nascente), em Osório (RS).
O conhecimento e a prática que envolve a semeadura e o cultivo das espécies, nos viveiros, são repassados para os Guarani pelos técnicos não-indígenas e pelos próprios viveiristas (cuidadores) guarani. Também são realizadas oficinas abordando temas como identificação e uso das espécies, reciclagem de resíduos sólidos e compostagem. Os viveiros-estufas foram projetados respeitando aspectos da cultura Guarani, como a orientação solar de acordo com as divindades, a criação de um espaço interno para realização de reuniões e oficinas e o uso de materiais como taquara e capim santa fé, comuns em habitações tradicionais indígenas e nas casas de reza. Para integrar os conhecimentos e tradições Guarani com padrões de construção sustentável, houve a implementação de sistemas de captação de água da chuva buscando a harmonia entre a tradição e a inovação. A reinauguração dos viveiros marca um novo capítulo na preservação ambiental e na valorização da riqueza cultural Guarani, reafirmando o compromisso do Projeto Ar, Água e Terra com o meio ambiente e com as comunidades indígenas.